PRODUÇÃO

Percepção e Aprendizagem no Museu de Zoologia: uma análise das conversas dos visitantes

(MESTRADO)

Natalia Ferreira Campos – Bolsista CNPq (2010 – 2013)

Este trabalho apresenta uma análise de aspectos da aprendizagem presentes nas conversas de visitantes adultos em uma exposição de zoologia. Adotamos a perspectiva sociocultural de aprendizagem e desenvolvimento de Vigotski (2009), segundo a qual o uso da linguagem é entendido como forma de compartilhar e desenvolver conhecimentos conjuntamente, mas também como ferramenta que orienta os processos psicológicos internos do indivíduo. Nesse sentido exploramos o processo cognitivo de percepção verbalizada, ou seja, mediada pela linguagem (VIGOTSKI, 2009; LURIA, 1970), além da aprendizagem colaborativa entre pares (MERCER, 2000). Nosso objetivo foi analisar como a linguagem verbalizada é utilizada na interação para qualificar e ampliar as percepções sobre os elementos da exposição e para construir significados conjuntamente sobre os objetos e conteúdos apresentados. Para isso, buscamos caracterizar as conversas dos sujeitos ao longo da exposição por meio da análise das operações epistêmicas realizadas na fala e também das formas de interação como caracterizadas por Mercer (2000) (conversas acumulativas, disputativas e exploratórias). As operações epistêmicas foram organizadas em três grupos: operações dirigidas pela percepção; operações de conexão com conhecimentos e experiências; e operações de maior elaboração conceitual. Nossos sujeitos foram adultos, integrantes do ensino médio na modalidade Educação de Jovens e Adultos, visitando em duplas a exposição Fauna da América do Sul, que é centrada na apresentação de animais preservados e dioramas de ambientes naturais, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, em agosto de 2011. Observou-se que a maior parte das conversas se desenvolveu de forma colaborativa para aprendizagem, em geral com construção positiva, mas não crítica, dos parceiros sobre as falas uns dos outros (conversas acumulativas), sendo raras as conversas centradas na argumentação de pontos divergentes (exploratórias). Durante as visitas as conversas foram majoritariamente centradas em elementos da exposição, indicando a atratividade dos objetos. Por meio das operações epistêmicas de Nomeação, Apontamento, Afetividade e Caracterização os sujeitos direcionaram a atenção dos parceiros, qualificaram e compartilharam percepções, atuando na construção conjunta de significados para os objetos; dentre essas se ressalta a importância da Nomeação dos objetos para os visitantes, que promoveu em algumas ocasiões discussões e um engajamento mais profundo na exposição. Também observamos, porém com menor ocorrência, as operações de Conexão com o conhecimento, Suposição e Explicação que indicavam conversas de maior elaboração conceitual. Ressalta-se, entretanto, que as conversas mais elaboradas em geral apresentaram maior articulação das operações epistêmicas, incluindo sobreposições, como por exemplo, no caso de Explicações constituídas por Conexões com o conhecimento ou Caracterizações, o que indica a importância das operações dirigidas pela percepção para as operações mais elaboradas conceitualmente. Os questionamentos também apresentaram papel relevante na promoção de operações epistêmicas. As conversas mais elaboradas foram desenvolvidas tanto em função da percepção dos objetos, como por demandas da própria conversa, apontando a relevância da experiência concreta com os objetos e dos aspectos da interação social para a aprendizagem. Esperamos que este estudo contribua para a compreensão do papel educativo de exposições, e para a compreensão de como visitantes adultos compartilham percepções, negociam e constroem significados relacionados aos conhecimentos e objetos musealizados.

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